30 novembro 2006

paisagem interna

sob olhar ofuscado por lágrimas
estão as mãos que pressionam o rosto
o tempo é concedido em proporções lentas
ela chora

sob nuvens de lascas memoriais
estão pernas cruzadas que sustentam sua individualidade
uma menina na grama e um caderno vazio
ombros baixos

com suas palavras
queria alcançar o tato e o paladar
pois o que sente tem textura e sabor
ela apenas chora

então, o sono contrai o corpo
mas não sacia o cansaço

o que te fere menina calada?
volte a ouvir o som das cores!

10 novembro 2006

retrato do que estou sentindo

o sofrimento estava próximo da gente,
mas éramos alheios a ele,
até que ele morre

como um finco
não consigo fugir das memórias
das conversas, das queixas
dos choros, das histórias
“os lutos, não podem ser esquecidos por ninguém”

o choro volta como um vulto dentro de mim
e se expõe

agora o sofrimento está em nós
sofremos
a morte é amarga para os que ficam
ainda mais porque ele era amigo presente

as ultimas palavras do Lelê pra mim:
“que bom que você veio aqui, Deus te abençoe no teatro”
dei-lhe um beijo na testa
naquele quarto daquele hospital

07 novembro 2006

a morte do meu melhor amigo


“Não estou aqui para lamentar a morte de um jovem de 23 anos que sofreu por ter câncer; nem para lamentar a morte de um estudante de agronomia ou de um diácono da nossa igreja, não estou aqui para lamentar a morte de um estranho, estou aqui para lamentar a morte do meu irmão. E eu lamento a morte do Lelê. Pra quem não sabe, o Lelê era o meu melhor amigo e eu o amava."

É muito difícil perder um amigo.
É muito difícil.
Uma dor que sinto nas juntas.
Um lamento que não tem consolo nem solução.
Um lamento profundo e impotente.
Eu não posso mais dizer que “nunca senti na pele a dor gemida” porque escrevo entre gemidos, entre fôlegos pesados.
Eis “uma perda próxima demais”.
Um lamento insistente e eu sei que permanecerá por muito tempo ainda.

Queria registrar algumas cenas marcantes:
- Ver os amigos carregando o caixão
- Ver a igreja tão cheia, quando os jovens foram à frente para cantar não couberam e encheram os corredores laterais do templo
- Conseguir falar segurando o choro
- Ouvir a Jamille e o Daniel falarem
- Jony – “se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos”
- “se paz a mais doce me deres gozar, se dor a mais forte sofrer...”
- assistir o pedreiro fechar o túmulo
- voltar pra casa no carro em silencio

Temos que fazer valer a pena!
Eu tenho que fazer valer a pena.

O que mais me consola? - Perceber no choro e na expressão de alguns amigos a mesma tristeza que eu sinto. - Lembrar das nossas conversas.. “liz.. é muito bom que você veio aqui sabia?” ..” liz, dá pra você passar aqui na sexta a tarde?”, “aqui, lê aquele texto lá de novo.. “ (2Cor4...) ... “esse câncer não é para a morte, mas para a glória de Deus” ...