Hoje em dia dizer-se frágil é
quase como dizer que está sujo, ou pior, com uma doença terminal. A fragilidade
humana é cuspida. Não se pode admitir frágil sem suspeita de fraqueza
emocional. Mas o fato incontornável é que eu sou frágil. Tenho isso por certo. Sinto-me
em paz com essa noção e, aliás, admitir isso muitas vezes me fez viver melhor e
me fez pedir ajuda na hora certa.
Uma pausa para pensar em folhas secas. Chega o inverno as
folhas caem, secas, únicas, coloridas ao vento.
No meu entendimento, fragilidade nada mais é do que a
efemeridade, a possibilidade de quebrar-se, a necessidade de cuidado.
Talvez por causa da minha intimidade com a minha própria
fragilidade tive uma aceitação quase que instantânea às obras de arte que lidam
com o efêmero. As instalações, performances, site specific, land art e suas companheiras
todas fazem grande sentido existencial pra mim. De certa forma a própria vida é
a junção de todas elas desdobrando-se feito origami e revelando a qualidade do
nosso ser, nosso real formato e as marcas que nos trazem ao presente; no corpo,
no espírito.
Este atributo secreto que de certo modo todos carregamos é
algo que nos une. Torna-nos indispensáveis ao convívio e, principalmente, ao afeto.
Torna-nos igualmente machucáveis, mas também empáticos. Temos capacidade de demonstrar
misericórdia simplesmente porque nós também nos machucamos de tempo em tempo e,
portanto, sabemos o que uma visita pode curar.
Um pedaço de barro nas mãos de um escultor. Vidas expostas
ao tempo e ao abrigo de um abraço. Mãos encostadas e acenos que não podem
conter a dor da despedida, mãos graciosamente desenhando um adeus. “Quem de
vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida?”
(Lc 12.25).
Há algo de bonito nessa finitude destacada. Para mim, acredito
que seja o caminho da lembrança; simplesmente porque vejo a minha fragilidade
posso mais facilmente me lançar no acolhimento da graça do Pai.
2 comentários:
Porque ele escolheu as coisas fracas para envergonhar as fortes e as que não são para envergonhar as que são. Dou graças por isso sempre. Não tinha pensado ainda sobre a relação entre fragilidade e efemeridade. É fato. Gosto da parada nas folhas secas...
Um consolo esse texto. Numa sociedade aonde a gente tem que ser forte sempre, sentimos muita culpa quando nos deparamos conosco mesmos e nos encontramos frágeis.
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