não poderia me sossegar, sossegar
era dia de luto dia do sol se por devagar
dia de lagrima, mas era lá dia que se tarda
dia em que o nunca se aproximou de todos que ali reunidos esperavam
a terra cobrir o que antes era vida
o choro cobriu junto com a terra até chegarmos ao ano depois
reviver é algo a que ninguém se dispõe a não ser por pouco
posso não conhecer de perto o luto de ninguém
mas conheço o meu
sofro porque o amava
no mundo em que vivemos, amar é sofrer.
a parte de mim que foi enterrada ficará enterrada
e as partes que restaram aos poucos repartidas choram novas dores
novos lutos, outros enterros, entregas.
minha dor está aqui está agora
sofro porque o amo ainda
em partes ele não se foi
por que resta a vontade de rever meu amigo meu irmão?
restam as transformações e as marcas que ele cravou
o vejo quando me olho no espelho
o vejo quando me lembro da sua feição
embora sua jactância fosse ultrajada nos últimos dias de sua vida
a sua juventude será eterna
e eu a levarei comigo à velhice se Deus me permitir
cantarei sempre saudosa
lembrarei sempre chorosa
a morte do Lelê jamais será lembrada com alegria
embora sinta o consolo do Senhor,
ele não me desampara e eu não me desespero,
a morte é um insulto e uma loucura
será lembrada com tristeza, como hoje.