30 março 2006

compus chorando

erva que seca
como a petala
como o pó
vós que confiais em homens
todos homens
passarão
sempre errantes
sempre inconstantes
sempre sós

rasgai-vos a voz
vinde chorai
arrependei-vos
fazei soar o vosso pranto
vinde provai
e reconhecei

benditos vós
que chorais
que sereis consolados
vós humildes
que esperais firmes
no Senhor
sempre fortes
perseverantes
nunca sós

rasgai-vos a voz
vinde chorai
arrependei-vos
fazei soar o vosso pranto
vinde provai
e reconhecei

enquanto há tempo
enquanto é dia
enquanto há vida

18 março 2006

"..foi por te ver andando reto entre tudo que há de incerto em mim.."

Parece-me que as melhores músicas já foram escritas.

12 março 2006

árvore cinza

tudo em uma tela e algumas palavras

frente às muitas frentes decorrentes do cotidiano
desdobram-se mútuos fatos e pensamentos
eu aqui dispersa e cansada
capto o que eu consigo lembrar

rodeando a memória recente das falas dos meus amigos
remontam-se ávidos retratos e monumentos
você aí conversa apressada
capto o que eu consigo escutar

nem sempre é assim
tem hora que as coisas parecem mais simples

as confissões alheias sempre me surpreendem mais
as minhas confissões parecem batidas

e o enredo se desenvolve oco

as pausas são longas entre cada estrofe
espero a chegada da mais pura expressão

“quais são as coisas e as cores(...)?”

em busca de uma afirmação rígida e integra
percebo na amplitude dos vocábulos secretos
um apego ao íntimo e inibido
o tempo se desmanchando em lagrimas
“prantos e glórias”
afirma a Sua presença constante

minha espinha se ergue frágil
percebo na solitude dos pensamentos discretos e inseguros
um aspecto não fingido
mais grotesco
mais singelo
mais real

então sento aqui no meu cantinho
com meu lápis na mão

06 março 2006

P6

se tudo que eu falasse fizesse sentido
eu nao precisaria escrever as coisas

isso

alguém sabe o que é isso?

manifesto atrasado

Faz dias que eu não durmo o tanto que devia
Invejo você que não sabe o que eu sinto
Meu corpo treme
Cafeína corre pra eu não ser derrubada
Eu sempre demoro pra me levantar
E ando com as roupas descombinadas
Mais umas noite me venceu
Mais uma olheira pra eu tentar esquecer
Agora é impossível recuperar
E ainda não entreguei o trabalho de estruturas
Todo mundo acha meu curso meio bobo
Meio fácil
Mas eles não sabem a pressão de ter que criar algo novo e elegante
Luto por uma arquitetura mais sóbria
Luto por um raciocínio perfeito
E a perfeição é mais difícil do que exercícios de cálculo
A autocrítica é mais dolorosa do que os professores carrascos
Porque ela é mais verdadeira
Ela é mais próxima e, portanto, fere mais
Traçado sóbrio, preciso alcançá-lo
Eis o meu fado: a percepção de estar distante do ideal
Nessa vida de sempre acordada algumas coisas me perturbam
Os dias parecem demasiadamente lentos
As pessoas parecem demasiadamente ocupadas
E eu exaustivamente cansada
Nessas horas de processo .. de sugar algo de dentro
De ver que não saiu perfeito
Preferiria vomitar a estar diante das imperfeições que eu mesma criei
É difícil demais ter que criar o ritmo e a melodia
Em um estilo que eu ainda estou aprendendo a definir
É difícil demais definir
Penso que as minhas propostas deveriam refletir um pouco de quem eu sou
Mas nem sempre a pessoa que sou apresenta-se como proposta plausível
Quando chega a noite e eu não posso dormir
Isso me perturba
Me aflinge
Mas é uma aflição medíocre
De gente que não soube se organizar
De gente desesperada por expressar mais do que realmente sou
Agora já tarde de novo
Meus olhos vermelhos gritam por se fecharem
Meus dedos os forçam a continuarem
Em prol desse verso que me entorna nesse arquivo