22 dezembro 2010

Menino da pipa amarela


Ô Menino vem cá
Menino da pipa amarela o céu, vasto céu, é o seu mar

O pouco que tem reparte comigo
Da repartição tudo pode virar
O prato mexido, farofa, feijão
Idéias à mesa amizade à mão
                Café passado no passar dos dias
                Da minha varanda eu reparto o quintal
                Da minha vontade... Tudo o mais!

O vento é chão pra sonhos se ter
Seu pé tem raiz nessa terra seu lar
O muito que sonhas divide comigo
Um caminho trilhado sem solidão
                De suas histórias eu bem que conheço
                Sua pipa amarela ó Minas Gerais
                É vôo de muitos Brasil... Em um só lugar

Ó Minas Gerais
Ô Menino vem cá
Ó Minas Gerais
Ô Menino vem cá
Quem te conhece não esquece jamais
Menino da pipa amarela o céu, vasto céu, é o seu mar

24 novembro 2010

meu caminhar

Lucas Rolim, Liz Valente, Pedro Paulo Valente


Essa canção é uma parceria minha e do Lucas.. com a paciencia do Pedro que ouviu todo o processo de criação.


A noite cai sobre mim
E eu não me vejo, não me vejo

Passos largos me conduzem por aí
É uma avenida qualquer de belo país
A vagar estou,
Devagar eu sou
Não pressa de chegar
Veja lá o sol se pôs
Luzes tomam seu lugar
A jornada e meu alento em caminhar

A noite cai sobre mim
E eu não me vejo, não me vejo

A calçada me carrega por aí
Conto ruas, esquinas
De um novo porvir
Sem pesares vou
Meus olhares dou
Não tenho medo de encontrar
Veja lá o amor nascer
Encontrou o meu lugar
O horizonte tem seu jeito de chegar

A noite cai sobre mim
E eu não me vejo, não me vejo

Passos largos, firmes, trôpegos
Passos fortes, feios, roucos
Passos a mais
Passos em paz
Eu vou

18 novembro 2010

s'imbora pra lá


Vamos’embora pra lá, pra lá, pra lá,
Deixa esse queijo de lado morena, e entra na carroça
Essa cidade só chove, só chove, só chove,
Deixa esse barro de lado morena, e entra na carroça
A paisagem é morro, só morro, só morro
Deixa o barraco de lado morena, e entra na carroça

Essa cidade é a minha casa
Esse barraco é o meu lar
Minha terra é preto, café
E meu sol amarelo canarim

O meu céu é azul que dá dó
O mingau que eu como é fubá
Levo no peito o caminho de volta
Me dê sua mão pra eu subir na carroça

08 novembro 2010

carta perdida


Sem querer amigo lembrei-me de você
Imaginei você sorrindo, estava bem
No seu rosto batia um raio de sol

Sem querer amigo chorei de saudade
Por saber que mais um ano passou
E sua juventude ficou na calçada

De bicicleta meus sentimentos voltaram naquele hospital
No dia em que você falou que eu te fazia bem
Imaginei seu alivio quando você se foi
Mas hoje queria ir a seu encontro
Contar tudo o que aconteceu comigo
Tanta coisa que mudou, você tinha de ver..

17 setembro 2010

A complexidade da dor


(Esse texto foi escrito a partir de memórias inventadas, mas possíveis. É a minha primeira crônica e espero que gostem, estou pensando um pocuo sobre crônicas e a riqueza maior que conseguem exercer sobre a gente. Escrevi porque estava  preparando-me para uma conversa sobre sofrimento com as meninas do meu grupo de discipulado da UPA elas tiveram reações diversas... Também assistimos esse vídeo que trata do mesmo assunto "ER descobre o engano do pós-modernismo").



Borboletas azuis
 Cedo. Raio de sol rente ao solo. Nascente. Respirava Téo. De Téo muito se esperava. O homem que poderia ser, a mulher que poderia ter. Filhos, histórias. Deitado. Téo trocara as forças por vaidades e sempre que olhava no espelho olhava a própria alma. Acontece que a abateram-lhe atrocidades, caíra-lhe o cabelo e a fronte por demais cansada de tomar na veia remédios fortes a combater a doença. O espelho roubou o brilho dos seus olhos.


Muito se pensava que ele ia ser. Homem, estudado, viril. Muito se sonhava sobre ele, inteligência, esperteza, coragem. Livros. 

– “Levante Téo, já é dia”. A voz doce de Joana, sua irmã mais nova vendo-lhe as fraquezas no simples respirar. Parada. Ao pé da cama. Vestia um pijama claro e fitava pela janela o sol.

– “Nasci e agora morro aos poucos ao invés de viver”. Sempre que lhe mandavam levantar, respondia assim. Áspero e cruel. – “Sai da minha frente, Joana, porque a vida que você tem é injusta aos meus olhos, e a sua beleza tortura-me o dia”.

"Levante Téo"
Muito lhe queria bem, Joana. Muito lhe amava. Mas já se acostumara com tamanho rancor de alma nítido no olhar e na voz de seu Irmão. Era-lhe, ainda assim, formoso. Claro, alto, olhos fundos. Sua fraqueza de corpo tornou-lhe duro de espírito e impenetrável de tanto sentir-se injustiçado. Seus sentimentos eram complexos porque sabia da sua condição de amaldiçoado pelo destino, mas não conseguia por um instante negar a beleza da vida em si, ainda que quisesse por muitas vezes morrer de tanta frustração. Ele mesmo esperava de si, mas a morte por certa que fosse a todos, era-lhe ainda mais exata. A cada respirada era lembrado disso pela dor que sentia nos pulmões.

Téo agora estava acordado mesmo não querendo estar. Percebia-se a si mesmo, e se contorcia internamente por querer ser terno. Já havia abandonado a ternura há muito e agora lhe restava torturar os outros com sua aspereza e displicência. Joana passou a olhar para ele. Olhava e via-lhe. Sabia que em breve não o veria mais.

Joana
–“Será que você não quer tomar um café? Depois ir comigo até o quintal procurar borboletas? O Andrade disse que outono é época de borboletas azuis lá perto das hortênsias da mamãe. Vamos?” Disse Joana confiante, Téo sempre lhe incentivava passeios pelo quintal a procura de insetos. Em seu quarto uma parede inteira deles alfinetados e catalogados, em português e latim. Acontece que amanhecera triste, e por não querer demonstrar sua tristeza fez-se de bruto. Ainda mais, o Andrade sempre inventava essa de ter vistos insetos para fazê-lo sair da cama.
 
– “Vá embora. Já lhe disse que ver você é suficiente para estragar o meu dia!”. Mentira. Joana normalmente lhe alegrava com sua atenciosidade. Apesar de nova, conhecia dele o sofrimento e não desprezava sua raiva por causa da dor. O fato de Joana o compreender lhe trazia conforto. Ser compreendido lhe dava uma sensação de valor que nenhuma outra coisa podia lhe dar.

–“Bem, se você mudar de idéia, bate o sino que venho te buscar”. Sem se incomodar muito com a dureza das palavras de Téo, Joana deixa-o. Quando parada, olhava para ele, vira sua tristeza. E dela teve a certeza de que Téo precisava mesmo ficar só.

"Mas, detido em si mesmo..."

Era cedo. Cedo demais para morrer. Cedo pra terminar a vida. Jovem. Expectativas. Ansiedades.  Mas a força lhe fora arrancada e a fragilidade exposta a cada movimento. Piscava os olhos. Por dentro queria gritar, pedir ajuda. Silêncio. Uma gratidão estranha não lhe permitia rejeitar tudo. Agradecia a cama, o cobertor. Da janela agradecia a paisagem e sua gratidão lhe tirava a raiva tão cultivada por ele. A raiva era a o único sentimento que lhe cabia, pensava. Mas sentia mesmo era alegria em meio a dor. ”Joana”’, pensava, “vamos procurar borboletas azuis?”. Mas, detido em si mesmo, virou para o lado e ficou.

águas petrificantes do caraça


A luz do sol bate nas pedras cor de ouro e sobe pela água dando esse tom amarelado vivo, até parece que aquece, mas não. As águas do Caraça são geladas, petrificantes e qualquer pedra que aponta no meio do rio vira refúgio ao mergulhador que por minutos espera a coragem chegar.