
11 outubro 2006
30 março 2006
compus chorando

como a petala
como o pó
vós que confiais em homens
todos homens
passarão
sempre errantes
sempre inconstantes
sempre sós
rasgai-vos a voz
vinde chorai
arrependei-vos
fazei soar o vosso pranto
vinde provai
e reconhecei
benditos vós
que chorais
que sereis consolados
vós humildes
que esperais firmes
no Senhor
sempre fortes
perseverantes
nunca sós
rasgai-vos a voz
vinde chorai
arrependei-vos
fazei soar o vosso pranto
vinde provai
e reconhecei
enquanto há tempo
enquanto é dia
enquanto há vida
06 março 2006
manifesto atrasado

Invejo você que não sabe o que eu sinto
Meu corpo treme
Cafeína corre pra eu não ser derrubada
Eu sempre demoro pra me levantar
E ando com as roupas descombinadas
Mais umas noite me venceu
Mais uma olheira pra eu tentar esquecer
Agora é impossível recuperar
E ainda não entreguei o trabalho de estruturas
Todo mundo acha meu curso meio bobo
Meio fácil
Mas eles não sabem a pressão de ter que criar algo novo e elegante
Luto por uma arquitetura mais sóbria
Luto por um raciocínio perfeito
E a perfeição é mais difícil do que exercícios de cálculo
A autocrítica é mais dolorosa do que os professores carrascos
Porque ela é mais verdadeira
Ela é mais próxima e, portanto, fere mais
Traçado sóbrio, preciso alcançá-lo
Eis o meu fado: a percepção de estar distante do ideal
Nessa vida de sempre acordada algumas coisas me perturbam
Os dias parecem demasiadamente lentos
As pessoas parecem demasiadamente ocupadas
E eu exaustivamente cansada
Nessas horas de processo .. de sugar algo de dentro
De ver que não saiu perfeito
Preferiria vomitar a estar diante das imperfeições que eu mesma criei
É difícil demais ter que criar o ritmo e a melodia
Em um estilo que eu ainda estou aprendendo a definir
É difícil demais definir
Penso que as minhas propostas deveriam refletir um pouco de quem eu sou
Mas nem sempre a pessoa que sou apresenta-se como proposta plausível
Quando chega a noite e eu não posso dormir
Isso me perturba
Me aflinge
Mas é uma aflição medíocre
De gente que não soube se organizar
De gente desesperada por expressar mais do que realmente sou
Agora já tarde de novo
Meus olhos vermelhos gritam por se fecharem
Meus dedos os forçam a continuarem
Em prol desse verso que me entorna nesse arquivo
05 fevereiro 2006
outra coisa
reconheço que sôo repetitiva
perdão por repetir as mesmas falhas
e por repetir as formas de pedir perdão
é sempre a mesma confissão
sempre o orgulho interrompe minhas tentativas
de tecer com excelência minha caminhada
sempre o orgulho engasga minhas expectativas
de olhar meu próximo sem lhe julgar
meu orgulho alimenta minhas invejas
meu orgulho encoraja minhas falsidades
enfrenta as minhas tentativas ser humilde
incita minhas ambições vãs
incentiva minhas futilidades
sinto-me suja por causa dele
mas não consigo me livrar desse sentimento
ele me acompanha
parece que está engastado
parece mau
parece e é.
sempre
sempre
maldito ego!
por que me tornas tão arrogante?
meu orgulho me faz querer comprar tudo
me faz querer ter tudo sem fazer nada
ele justifica meus erros pra mim
mas agora o enxergo e me coloco no chão
comeria pó se isso explicasse melhor
cortaria meu cabelo se isso me livrasse de pensar em mim mesma
mas é uma questão interna
e os atos não resolvem nada
meu orgulho luta contra tudo o que eu tento afirmar
e as vezes vence
quantas vezes agi movida por ele?
o que eu faço para conter essas minhas reações?
o que eu faço para não me orgulhar?
“Deus resiste aos soberbos mas dá graça aos humildes”
minha maldade flui de mim
o que fazer Senhor?
preciso do Teu lavar santo
preciso usar novas lentes
ser mais altruísta
mais amorosa
mais gentil
menos grossa
menos vil
18 janeiro 2006
prefiro muitas coisas que não consigo praticar

prefiro os que transpiram sentimentos nus aos insensíveis
prefiro a frieza à falsa compaixão
e a dureza à auto piedade
prefiro os culpados aos auto suficientes
prefiro os cansados aos covardes
prefiro os medrosos aos metidos
e os feios aos vaidosos
prefiro os machucados aos endurecidos
prefiro os que choram à mim mesma
porque sinto que as coisas que eu falo não fazem muita diferença
e chamar atenção é mais importante hoje em dia
nessa era de todas as eras
eu ainda prefiro os humildes
os sujos
os esquecidos
à minha extravagância
porque hoje escrevo das minhas entranhas
fugindo dos meus próprios padrões
sem medo da rejeição
com todo medo da culpa
28 novembro 2005
“Espírito do trino Deus opera em nós”

não sou uma pessoa de vida sofrida
nunca senti na pele a dor gemida
o medo desolado
a agonia intensa
o desespero denso
a fome amarga
ou a perda próxima demais
outras questiono se isso não faz de mim
uma pessoa que não sabe consolar
os que choram
então choro por querer saber
mas na prática
e de fato
nunca poderia entender
entretanto poderia eu negar que
Aquele que me guarda de tropeçar
é quem tem me desviado da aflição?
e que Aquele que me livra
também me direciona a sentir compaixão?
mesmo sem compreender completamente
Este mesmo que ao frágil consola
enche-me do Espírito consolador
posso transpirar mesmo em minha alegria
em minha sinfonia inocente
virgem da aflição
casta da dor
o consolo de Cristo meu Senhor
10 novembro 2005
era pra eu ter dormido mas quis escrever


mas costumo deixar as pessoas de fora
era pra eu aproveitar melhor os meus dias
mas as críticas borbulham em minha cabeça
era pra eu me livrar das vis correrias
mas ainda não aprendi a ser sábia quanto a isso
era pra eu emagrecer
mas todos estavam comendo chocolate
era pra eu crescer
mas não nesse compasso arrastante
preciso encontrar um espaço mais sincero
dentro e fora do meu próprio corpo
onde tudo eu veria além desse escopo
de “era pra eu ser”
e de “mas não consigo”
era pra eu ser mais nua comigo
01 novembro 2005
frustração de não conseguir expressar a minha frustração

sentir uma agonia que não passa
meu pensamento ao passo da repetição
a frustração tem um sabor amargo
condena-me da própria frustração
os olhares em ritmo de folia
parecem saber da minha interna condenação
não quero mais lembrar dos meus encargos
tampouco provar a auto repugnação
rude melancolia
me frusto por não conseguir vencer teu sentimento proposto
teus lembretes intrometidos
das minhas incompetências expostas
entrepostas
bem sei que és rasa
és dura e desnecessária
bem sei que és vã
és fria e me invades sem permissão